Você conhece a história dos povos antigos de Santa Catarina?
 

Matéria

Você conhece a história dos povos antigos de Santa Catarina?

6 / Outubro / 2022

Saiba mais sobre o Grupep, da UniSul, que atua há mais de 20 anos no desenvolvimento de pesquisas, na preservação do patrimônio do Estado e na divulgação deste conhecimento para a sociedade

Conhecer e contar a história dos povos antigos e contemporâneos e explicar as mudanças ocorridas nas sociedades humanas por meio dos vestígios deixados por estas populações. Muitas vezes, devido à idade destes povos, como é o caso dos povos construtores de sambaquis, a única forma de entender o seu modo de vida e quem eram essas pessoas é por meio dos registros arqueológicos. Para contar essa história que não está escrita, a arqueologia procura, estuda, identifica e preserva essas culturas por meio da escavação de ossos, materiais, pinturas e gravuras rupestres, objetos, artefatos muitas vezes deixados sob a terra ou sob ambientes aquáticos.

Quando pensamos na história antiga das civilizações humanas, grande parte das pessoas logo associa o tema às pirâmides do Egito e outras edificações, monumentos construídos há milhares de anos. No entanto, muita gente não sabe que aqui mesmo, em Santa Catarina, há vestígios milenares de nossos antepassados, gravados pelos rastros deixados por essas populações em nossos sambaquis.

Na região de Tubarão, onde há o Complexo Lagunar Sul, que reúne 120 sambaquis de Imbituba até Jaguaruna e outros sítios, o Grupep (Grupo de Pesquisa em Educação Patrimonial e Arqueologia), da UniSul (Universidade do Sul de Santa Catarina), integrante do Ecossistema Ânima Educação, atua há mais de 20 anos no desenvolvimento de pesquisas arqueológicas e na difusão desse conhecimento.

“A intenção é levar um conhecimento que é produzido na academia para a comunidade externa, sendo a comunidade escolar como nosso primeiro foco, mas também as comunidades vizinhas à universidade e aos sítios arqueológicos”, explica Bruna Cataneo Zamparetti, arqueóloga do Grupep e docente da UniSul.

Ela destaca que por ser um grupo de pesquisa em educação patrimonial e arqueologia, a parte educativa sempre teve um grande destaque, aliada à de desenvolvimento de pesquisa para o patrimônio arqueológico regional. “Por isso desenvolvemos várias pesquisas, inovação, do campo à análise laboratorial. A Unisul tem um grande e importante acervo de peças arqueológicas. Somos uma instituição de guarda de acervo arqueológico no Brasil. Aliado a isso temos toda a parte educativa de estar socializando, difundindo esse conhecimento que é produzido dentro da academia”, esclarece.

Interação com a comunidade

Para realizar essa interação com a comunidade, uma das ações previstas pelo Grupep são as visitas a escolas para explicar o trabalho arqueológico e o acompanhamento dos estudantes em visitas agendadas aos sítios arqueológicos.

“As escolas querem visitar sítios, geralmente sambaquis aqui da região, como o de Garopaba do Sul, em Jaguaruna, que atualmente é considerado o maior do Brasil, com cerca de 26 metros de altura. As escolas, no contexto ali do conteúdo, geralmente no quarto ano dos Fundamental 1 no sexto ano do Fundamental 2, ou mesmo no Ensino Médio, eles querem trabalhar essa história pré-colonial, a pré-história regional. Os colégios nos procuram para desenvolver o conteúdo e, em algumas ações vamos até a instituição escolar e em outras fazemos as visitas aos sítios arqueológicos”, esclarece a professora Bruna.

Uma destas visitas em campo foi realizada pelos profissionais da universidade nesta quinta-feira (1/9), quando o grupo acompanhou a visita de uma escola estadual de Capivari de Baixo ao Sambaqui de Jaguaruna.

Memória e valorização dos povos indígenas

A Semana dos Povos Indígenas é outra importante ação do grupo realizada durante o ano.  Em 2022 foi realizada a 14ª edição do evento, que prevê de três a quatro dias de iniciativas e concentra as ações educativas do Grupep. “São oferecidas entre cinco e dez oficinas dependendo da edição, as escolas recebem a programação anteriormente e agendam para quais oficinas elas querem participar. A gente costuma ter um atendimento médio de 2.300 pessoas neste período e a abertura da realização inclui palestras com convidados externos, não apenas de Tubarão, mas também de escolas que vinham inclusive da Encosta da Serra, próximos a Criciúma e Imbituba. Então temos uma abrangência regional bem grande”, nos conta o também arqueólogo do Grupep e docente da Unisul, Geovan Martins Guimarães.

Neste ano a Semana foi retomada após dois anos paralisada devido à pandemia de Covid-19 e ocorreu em abril, no município de Grão-Pará, a convite e oferecimento da prefeitura municipal, quando foram realizados 1.140 atendimentos durante quatro dias.  “Levamos toda nossa expertise, o nosso material expositivo e alguns jogos também. Foi interessante, chamou atenção dos municípios no entorno. Já estamos estabelecendo parcerias para que, em 2023, possamos desenvolver essa ação também em outros locais”, explica Geovan.

Ainda no evento de 2022, no segundo dia, foi realizada uma palestra com a primeira arqueóloga indígena do Sul do Brasil, a pesquisadora Laklãnõ Xokleng Walderes Coctá Priprá. “A fala dela ocorreu no ambiente online, mas foi muito importante, estavam assistindo ao evento, além dos nossos estudantes da UniSul, alunos da universidade São Judas Tadeu, de São Paulo, membros do município, professores, enfim, é uma iniciativa que envolve toda a comunidade e que traz para a sociedade a realidade indígena contemporânea”, ressalta Bruna.

Conscientização da comunidade

As ações educativas e de conscientização também são realizadas em campo, nos sambaquis, no parque ambiental local no município de Capivari de Baixo, para envolver e integrar a comunidade no ambiente em que ela está inserida.   “No final deste mês de setembro teremos um evento como esses, nos quais fazemos exposição, distribuímos material educativo e há também o momento de conversa com as pessoas, no qual explicamos sobre as questões ambientais que afetam a região do sambaqui existente no parque, como descarte incorreto de lixo, por exemplo. Por isso o Conselho de Meio Ambiente da cidade também participa. É um dia diferente no sambaqui, para aquela área, voltado a chamar as pessoas para dialogar sobre aquele espaço, um processo educativo junto à comunidade”, explica a professora.

De acordo com ela, o retorno destas iniciativas é percebido quando a própria comunidade liga e avisa as autoridades sobre irregularidades como um motociclista andando em cima de um sambaqui, uma pessoa extraindo conchas e outras ações que afetam os sítios arqueológicos. “Nosso trabalho se concentra no campo da educação, mas quando recebemos essas denúncias repassamos ao Iphan. É muito gratificante ver que esse nosso trabalho de formiguinha, de conscientização, tem surtido efeito”, ressalta a especialista.

De uma disciplina de Patrimônio Cultural à carreira de historiadora

O contato com o Grupep foi um divisor de águas na carreira profissional de Tatiane Soethe Szlachta. Em 2018 ela fazia uma disciplina de Patrimônio Cultural na UniSul quando o professor Geovan Guimarães, também do grupo, notou seu interesse no desenvolvimento de pesquisa. Com o incentivo dele, ela iniciou um projeto voltado à história indígena e arqueologia.

O projeto foi aprovado em 2019 e Tatiane conseguiu a bolsa de pesquisa, iniciação científica, para tocar a proposta. “Me mudei para Tubarão e comecei a frequentar o laboratório para desenvolver a pesquisa. Eu também participava das atividades que o Grupep fazia, recebendo as escolas para atividades de educação patrimonial, levando colégios para fazer as visitas arqueológicas, participei de escavações… desta forma fui criando o interesse pela área da arqueologia, de educação patrimonial e patrimônio cultural”, explica ela.

Em 2020 ela participou do projeto de extensão Um Olhar Sobre o Patrimônio, da UniSul. “Então fiz meu trabalho sobre o patrimônio da minha cidade de Grão-Pará. Em uma das atividades eu tinha que apresentar esse inventário que a gente fez numa escola ou então encaminhar para o órgão do município que era responsável pela gestão do patrimônio. Eu optei por enviar para a prefeitura. Quando fui apresentar o meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) no final do ano eu também convidei o pessoal da Secretaria de Educação do município e depois, no ano seguinte, quando eu já estava formada, fui convidada a trabalhar para eles como historiadora, fazer a pesquisa sobre história e a cultura no município, justamente por causa desses trabalhos que eu tinha desenvolvido no Grupep e encaminhado o resultado pra eles do inventário, do patrimônio cultural, e depois no TCC” conta ela.

No último ano ela começou a trabalhar para a prefeitura, onde atua até hoje. “O Grupep sempre foi um parceiro ali assim comigo, eles emprestaram materiais para os jogos que eles têm para desenvolver atividades nas escolas e também, em abril desse ano, a gente fez em Grão-Pará a Semana dos Povos indígenas, conseguimos desenvolver o evento em parceria com a Prefeitura de Grão-Pará. Eu fiz a ponte e eles entraram com os recursos humanos, a prefeitura com o local, os materiais e o transporte. A gente realizou algumas oficinas com os estudantes das escolas do município de Grão-Pará. E foi uma atividade bem legal, foi bastante elogiada pelos professores, pelos alunos também. No ano que vem eles querem realizar de novo, a prefeitura manifestou interesse em realizar e expandir o evento”, conta Tatiane.

Conhecimento transdisciplinar

As ações envolvendo a comunidade acadêmica, população e escolas da região não trazem benefícios apenas para a sociedade, mas também grandes ganhos aos aprendizados dos estudantes da UniSul. Segundo a professora Bruna Zamparetti a arqueologia é transdisciplinar, portanto, alunos ligados a outras áreas do conhecimento, como ciências da informação, biologia, geoprocessamento, mapas, pedagogia e história, entre outras, também se beneficiam da experiência e do aprendizado por meio das ações do Grupep.

Na região de Tubarão, além dos sambaquis, há outros tipos de sítios como: guaranis, sítios líticos/pontas de flechas, casas subterrâneas, sítios de concheiros feitos pelos antepassados dos Jês na região.

CONTEÚDO ESPECIAL, BRANDED STUDIO ND, FLORIANÓPOLIS
Fonte: https://ndmais.com.br/educacao/voce-conhece-a-historia-dos-povos-antigos-de-santa-catarina/