Um Dia Internacional da Mulher é um dia como outro qualquer. E não é.
 

Matéria

Um Dia Internacional da Mulher é um dia como outro qualquer. E não é.

7 / Março / 2023

Ramayana Lira de Sousa
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem
Curso de Cinema e Audiovisual

 

É um dia como outro qualquer porque há muitos marços o que vemos é a escalada da violência contra a mulher. É a constante reiteração de discursos e práticas machistas. É a reverberação de práticas coloniais que fundaram o racismo estrutural. É a repetição incessante da lesbo e da transfobia. Um 8 de março não faz essa máquina parar.

Recente pesquisa encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que chegamos a um ponto em que, literalmente, a mulher brasileira não pode ter um segundo de paz. O estudo “Visível e Invisível: a Vitimização das Mulheres no Brasil” revela que 30 milhões de mulheres sofreram algum tipo de assédio no Brasil em 2022. O que vale dizer: uma mulher assediada a cada um segundo. Mais de 50 mil mulheres foram agredidas por dia. Sim, por dia! Inclusive em um certo 8 de março, um dia como outro qualquer.

Mas o 8 de março também não é um dia como outro qualquer. E não porque é o dia de empregadores distribuírem rosas e chocolates para suas funcionárias (quem dera essa generosidade inspirasse iniciativas mais eficientes para melhorar a condição das mulheres no ambiente de trabalho, como a oferta de cuidado infantil e garantia de paridade dos salários com homens que desempenham a mesma função).

O 8 de março não é um dia como outro qualquer porque é um momento em que se unem as memórias das conquistas, o presente das lutas e o futuro das possibilidades.

Nada do que foi alcançado nas disputas históricas pela igualdade de gênero foi “dado” às mulheres. Pelo contrário. O 8 de março é um dia da memória que não nos deixa esquecer o passado colonial que infantiliza a mulher branca e desumaniza a mulher preta, que destruiu comunidades indígenas com golpes de facão, tiros de bacamarte e estupros de mulheres e crianças. Dia que mobiliza a lembrança da peleja pelo sufrágio e por garantias constitucionais. E que nos obriga a reconhecer nossas antecessoras não apenas pelos nomes preservados na história, mas, também, e talvez principalmente, pelos nomes que não sabemos e possivelmente nunca saberemos, apagados que foram.

Um dia como nenhum outro, 8 de março para lembrar que o presente ainda não se tornou o futuro que foi sonhado no passado. Mas que continua possível.