Musicoterapia para reconhecer o outro e a mim mesma
 

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Musicoterapia para reconhecer o outro e a mim mesma

15 / Setembro / 2022

Cláudia Schaun Reis – egressa de jornalismo na UniSul e musicoterapeuta

Escutar o outro foi uma das principais motivações que me levaram a fazer Comunicação Social – Jornalismo. Fiz o curso e me formei na UniSul, em 2005. Anos depois, como professora do mesmo curso no qual me graduei, aconselhava os alunos a não terem pressa em ouvir – porque o acesso a si mesmo através das histórias vividas vai se dando aos pouquinhos, no embalo das sonoridades que cada lembrança traz à tona. Não raro, as pessoas a quem dedicava o meu ouvir para exercer a profissão tinham insights, ressignificavam passagens e podiam devolvê-las ao seu Baú de Momentos Marcantes dessa Vida com alguns sorrisos a mais, simplesmente porque tiveram a oportunidade de se escutar.

Escolhi a troca acolhedora, em que entrevistador e entrevistado trazem, cada um, um tantinho de si, e voltam às suas vidas, depois desse compartilhar, modificados pelo o que o outro oferta – sejam risos e lágrimas, visões de mundo e sentidos, sejam fragmentos de memórias, gotas de (in)certezas ou medos travestidos de coragem.

Com o passar do tempo a palavra acolhimento foi se transformando em figura de um fundo que permanece sendo o ouvir. Tomei a música como companheira e ferramenta desse processo, e então a Musicoterapia brotou verde reluzente em minha vida. Escolhi ouvir, além das palavras, os ritmos e os suspiros, as melodias e as vozes entrecortadas, as dissonâncias e os sentires.

Em minhas sessões, o paciente vai percebendo que sons traduzem o que ele traz. A voz, o violão, o piano e o bongô, a moringa, a kalimba, as castanholas de bicho, o pau-de-chuva e a queixada (e tantos outros mais), na Musicoterapia, são instrumentos-sentimentos. E por esse caminho sonoro, o autodescobrimento se dá quando cada um se permite escutar seus próprios sons.

Nem é preciso saber música, ter feito aulas, ler partituras; para ser paciente de Musicoterapia, querer ser e estar na música é o bastante para ouvir mais sobre si mesmo. Sigo, então, ouvindo: as notas que cada paciente integra a si de maneira a sentir-se mais pleno, reconhecendo-se ou desconstruindo-se nos sons que ousa soar. Sigo ressoando: os ritmos, as alegrias, as harmonias e as dores, as (des)afinações, as celebrações e as conquistas dessa vida.

A Musicoterapia

Desenvolvida entre as décadas de 1940 e 1950, a Musicoterapia é um campo de conhecimento reconhecida pelo Código Brasileiro de Ocupação (2263-05) como terapia integrativa, considerando cada indivíduo como um ser único em suas peculiaridades. Atende a diversos públicos: mães grávidas; bebês prematuros e suas famílias; crianças, jovens e adultos com autismo, trissomia do cromossomo 21, paralisia cerebral e outras síndromes e transtornos cognitivos; pessoas que buscam o alívio do estresse, da ansiedade e dos sintomas da depressão; idosos com Alzheimer e Parkinson e também pacientes de cuidados paliativos, além de poder ser desenvolvida em comunidades e, ainda em empresas para a melhoria das relações.

Para praticar a Musicoterapia, no Brasil, é necessário fazer a graduação ou pós-graduação  em Musicoterapia. Em Santa Catarina, os profissionais estão reunidos na Associação Catarinense de Musicoterapeutas (Acamt) que, por sua vez, integra a União Brasileira das Associações de Musicoterapia (UBAM). A Acamt e a UBAM têm como uma de suas finalidades garantir que os musicoterapeutas associados possuam a formação básica necessária para atuar na área.